Literatura - Romantismo no Brasil: A Poesia

16/05/2012 20:38

 

  • Com a independência política do Brasil, os intelectuais e artistas da época passaram a dedicar-se ao projeto de criar uma cultura brasileira identificada com as raízes históricas, linguísticas e culturais do país.
  • O Romantismo assumiu o papel de rejeição à literatura produzida na época colonial, em virtude do apego dessa produção aos modelos culturais portugueses. Portanto, um dos traços essenciais do nosso Romantismo é o nacionalismo.

 

·         Primeira Geração: A Busca do Nacional

 

  • Gonçalves Dias, buscando captar a sensibilidade e os sentimentos do nosso povo, criou uma poesia voltada para o índio e para a natureza brasileira, expressa numa linguagem simples e acessível. Seus versos são melódicos e exploram métricas e ritmos variados. Cultivou também poemas religiosos que falam da manifestação de Deus na natureza.
  • Na produção épica de Gonçalves Dias destaca-se o poema “I-Juca-Pirama”, que narra a história vivida por um índio tupi que cai prisioneiro de uma nação inimiga: os timbiras. O drama do prisioneiro reside nos sentimentos contraditórios provocados por sua prisão: de um lado, deseja morrer lutando, como guerreiro corajoso que sempre fora; de outro, deseja viver para cuidar do pai, doente e cego.
  • O prisioneiro é libertado e afirma que voltará a se entregar quando o pai vier a falecer, Os timbiras não acreditam em seu argumento e acusam-no de covarde. Posteriormente o índio reencontra o pai, leva-lhe alimento, mas o velho, percebendo o cheiro das tintas e os ornamentos do ritual, descobre-lhe o segredo. Renega então o filho, leva-o de volta à tribo timbira e pede que ele seja sacrificado, amaldiçoando-o. Em seguida, o índio luta bravamente, provando que não era covarde. No último canto são afirmadas as qualidade heroicas do guerreio, que se transforma em mito nas tradições da cultura timbira. O título do poema, extraído da língua tupi, já sugere a sina de seu protagonista: “o que há de ser morto”.
  • O herói do poema representa todos os índios brasileiros ou, ainda, todos os brasileiros. Além disso, ao enfocar e pôr em discussão valores e sentimentos humanos profundos, o poema supera os limites da abordagem puramente indianista e ganha universalidade.

 

·         Segunda Geração: O Ultrarromantismo

 

  • No plano literário essa geração caracterizava-se por uma onda de pessimismo doentio que se traduzia no apego a certos valores decadentes, como a bebida e o vício, na atração pela noite e pela morte. No caso de Álvares de Azevedo, o principal poeta do grupo, esses traços ainda foram acrescidos de temas macabros e satânicos.
  • Os ultrarromânticos desprezaram certos temas e posturas da primeira geração, como o nacionalismo e o indianismo; contudo, acentuaram traços como o subjetivismo, o egocentrismo e o sentimentalismo.
  • Quanto ao amor, as obras dos ultrarromânticos apresentam uma visão dualista, que envolve atração e medo, desejo e culpa. O ideal feminino é normalmente associado a figuras incorpóreas ou assexuadas, como anjo, criança, virgem, etc., e as referências ao amor físico se dão apenas de modo indireto, sugestivo ou superficialmente.
  • A característica intrigante da obra de Álvares de Azevedo reside na articulação consciente de um projeto literário baseado na contradição, perfeitamente enquadrada nos dualismos que caracterizam a linguagem romântica.

 

·         Terceira Geração: A Poesia Condoreira

 

  • Os condoreiros, comprometidos com a causa abolicionista e republicana, desenvolveram a poesia social. Seus poemas, em geral apresentando tom grandiloquente, tinham como finalidade convencer o leitor-ouvinte e conquista-lo para a causa defendida. O centro de preocupação da linguagem desloca-se do eu para o assunto, o que representa uma mudança profunda, considerando que o Romantismo é por natureza egocêntrico.
  • O nome condoreirismo associa-se ao condor - ave de voo alto e solitário e capaz de enxergar a grande distância - tomando-o como símbolo dessa geração de poetas com preocupações sociais.
  • A obra de Castro Alves representa um momento de maturidade e de transição em relação a certas atitudes ingênuas de gerações anteriores, como a idealização amorosa e o nacionalismo ufanista, substituídos por posturas mais críticas, objetivas e realistas.
  • Embora a lírica amorosa de Castro Alves ainda contenha um ou outro vestígio do amor platônico e da idealização da mulher, de modo geral ela representa o abandono do amor convencional e abstrato dos clássicos e do amor de medo e culpa dos românticos. Em vez de “virgem pálida”, a mulher é um ser corporificado que participa ativamente do envolvimento amoroso. O amor é uma experiência viável, concreta, capaz de trazer tanto a felicidade e o prazer como a dor.
  •  Na poesia social, Castro Alves soube conciliar a ideia de reforma social com os procedimentos específicos da poesia, sem permitir que sua obra fosse um mero panfleto político – grande risco quando se tem o compromisso de interferir politicamente no processo social. Retrata a escravidão dos negros, a opressão e a ignorância do povo brasileiro. Utiliza linguagem grandiosa, com gosto acentuado pelas hipérboles e por espaços amplos.
  • Se compararmos Álvares de Azevedo – principal poeta da segunda geração – a Castro Alves, percebemos que o primeiro, ao tratar do desequilíbrio entre o eu e o mundo, revela um desejo latente de transformação da realidade, com a qual não consegue integrar-se, enquanto o segundo mostra uma tomada de posição, em que se há consciência dos problemas humanos e a busca de fórmulas para solucioná-los. 

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